sexta-feira, 22 de abril de 2011

Um Poema Escrito Com a Alma

Por Gabriel de Oliveira

O homem, não raras vezes, busca Deus como um ser material, visível, palpável. Busca, inclusive, à sua volta – o que não deixa de ser verdade, pois Deus está sim à nossa volta, numa mera rosa a desabrochar, no sorriso de um estranho direcionado a nós, ou até mesmo numa solitária nuvem a nos sobrevoar em um dia ensolarado. Entretanto, há um lugar especial onde as pessoas muitas vezes esquecem de Lhe procurar, e onde certamente Ele está: em nós mesmos, em nossos próprios corações, que é, sem sombra de dúvida, seu mais valioso templo.
Nesse contexto elaborei este poema, eterno navegar, que busca expressar exatamente a angústia que sente o homem que precisa de Deus em sua vida, de um porto de águas calmas para atracar, mas ainda não consegue encontrá-Lo. Todavia, no instante em que se põe a olhar para si mesmo, para seu próprio mar inconsistente, consegue, enfim, enxergá-Lo, visto que Deus, por mais distante que esteja Dele nosso coração, está sempre conosco. E ao fim, no instante em que o homem passa a olhar Deus com os olhos de sua alma, e não mais com seus olhos carnais limitadíssimos, consegue notá-Lo, por simplesmente não mais procurá-Lo materialmente, mas sim em sua mesma natureza, que é espiritual.

Eterno navegar

O homem navega em eterna busca
Em mar agitado que jamais finda.
Mas que porto é este que tanto procura?
Será, quem sabe, um sentido à vida?
Ou é felicidade, a terra firme distante
De sua nau chamada coração errante?
Ou será Deus a terra a que tanto aspira?

Mas como pode a este Ser tanto aspirar,
Se navega este homem em mar tão ausente?
Como pode neste porto querer atracar,
Se nem mesmo o vê, apenas o sente?
Se ao menos pudesse o enxergar,
Independente de para onde mirar.
Não é Deus, então, onipresente?

Eis que o homem à sua nau de regresso,
Resolve, em seu navegar insistente,
Mergulhar no mar de seu universo
E acalmar de ver esta água tão quente.
E neste oceano, então, assume sua fraqueza,
Podendo, enfim, ver toda a beleza
Que há em si próprio, mar inconsistente!

E ao se olhar, o homem já se enxerga
Não mais como uma nau à deriva,
Pois ao se conhecer, não mais se nega
A ver Deus, luz do farol à vista!
E de peito aberto mira a toda parte,
Conhecendo o artista por sua arte,
Horizonte belo do mar de sua vida!

Segue, então, tranquilo o seu navegar
Rumo a Deus, porto de água calma
Que pode o homem, enfim, enxergar,
Posto que agora o mira com a alma.

                                   Gabriel de Oliveira

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