sábado, 3 de dezembro de 2011

O USO DA PALAVRA


            Muito se fala sobre o valor e força que as palavras possuem. No imaginário de muitos cristãos acredita-se que ao pronunciarmos alguma palavra ou idéia mística aquilo se realizará de maneira irremediável como vaticínio, detalhe, se a mesma estiver carregada de ira, então, a vítima não tem como escapar do que foi pronunciado. Isto será mesmo possível? Existe uma dimensão mágica, uma força poderosa à espera de uma palavra para se materializar? Podemos, através desse artifício, causar algum estrago ou benefício a uma pessoa? Eu acredito que dessa forma, não! Entretanto, a palavra do homem tem poder sim, ao dizermos algo podemos não só impactar e influenciar destinos criando assim convicções ideológicas, religiosas ou emocionais. Para muitos indivíduos supersticiosos a palavra tem poder nela mesma.
        A história humana é um bom exemplo de que palavras mudam a ordem das coisas. É só recordarmos os feitos dos “camaradas” soviéticos, dos “friends” americanos, do iluminado Gandhi ou do extraordinário Fernando Pessoa, que não nos deixam dizer o contrário. No meio religioso cristão essa idéia mística adquiriu valor, sobretudo, no discurso que sair da boca de um líder poderoso, daquele tipo ávido por resultados grandiosos que desenvolve métodos e tem visões do céu e toma a Palavra de Deus como base para realização de desejos transcendentais. Ou serão materiais? Quase sempre esses poderes divinos estão atrelados, claro, à instituição religiosa. Infelizmente uma grande parte dos fieis é levada pelas palavras e aparência do grande orador (sacerdote), e não discernem que uma palavra mal interpretada, pode fazer um estrago irreparável em sua espiritualidade. Realmente a Bíblia não é um livro de fácil compreensão, é necessário ao que se aventura em sua interpretação uma boa dose de bom senso para ouvir e respeitar o que ela diz. Quase sempre, junto à mística do poder das palavras, encontramos alguém preocupado em resultados mágicos. No texto bíblico em Atos dos Apóstolos capítulo 8:9-11,  o personagem Simão é exemplo de uma espiritualidade mundana submetida ao desejo de controlar coisas e pessoas. Diz o texto que todos davam credito às suas palavras e submetiam-se ao mágico pensando ser ele o poder de Deus, pois suas palavras de engano eram “poderosas”. Na cabeça das pessoas, ser poderoso é ter controle sobre situações das mais diversas. Isto me lembra os sistemas de monitoramento em tempo real que a tecnologia tanto apregoa para nosso benefício nos dias de hoje. Vende-se para a sociedade à idéia de que quanto mais controle, menos violência urbana! É o que dizem os apregoadores deste mercado tecnológico. Mas a realidade nos mostra outra coisa. O poder para controlar não será uma sugestão diabólica? Essa sugestão é antiga o desejo desenfreado de controlar pessoas e acontecimentos ou o futuro não cabe a nenhum homem ou sistema, por mais justa que seja a causa. Devemos viver um dia de cada vez, construindo relações livres pela confiança nos princípios divinos. Deus sempre estimulou na humanidade a confiança na liberdade, foi isso que Jesus de Nazaré exercitou com os discípulos e ouvintes, à confiança em Deus. No entanto algumas comunidades cristãs vivem o desvio entre desejo e prática da confiança, infelizmente isto se tornou apenas um alvo a ser alcançado quase nunca vivido. A influência de uma palavra amorosa constrói verdades livres, assim como palavras hipócritas constroem castelos em areia movediça. Pertence a Deus o poder de sustentar toda à criação, mas ele o faz pela liberdade!   






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