sábado, 3 de dezembro de 2011

O USO DA PALAVRA


            Muito se fala sobre o valor e força que as palavras possuem. No imaginário de muitos cristãos acredita-se que ao pronunciarmos alguma palavra ou idéia mística aquilo se realizará de maneira irremediável como vaticínio, detalhe, se a mesma estiver carregada de ira, então, a vítima não tem como escapar do que foi pronunciado. Isto será mesmo possível? Existe uma dimensão mágica, uma força poderosa à espera de uma palavra para se materializar? Podemos, através desse artifício, causar algum estrago ou benefício a uma pessoa? Eu acredito que dessa forma, não! Entretanto, a palavra do homem tem poder sim, ao dizermos algo podemos não só impactar e influenciar destinos criando assim convicções ideológicas, religiosas ou emocionais. Para muitos indivíduos supersticiosos a palavra tem poder nela mesma.
        A história humana é um bom exemplo de que palavras mudam a ordem das coisas. É só recordarmos os feitos dos “camaradas” soviéticos, dos “friends” americanos, do iluminado Gandhi ou do extraordinário Fernando Pessoa, que não nos deixam dizer o contrário. No meio religioso cristão essa idéia mística adquiriu valor, sobretudo, no discurso que sair da boca de um líder poderoso, daquele tipo ávido por resultados grandiosos que desenvolve métodos e tem visões do céu e toma a Palavra de Deus como base para realização de desejos transcendentais. Ou serão materiais? Quase sempre esses poderes divinos estão atrelados, claro, à instituição religiosa. Infelizmente uma grande parte dos fieis é levada pelas palavras e aparência do grande orador (sacerdote), e não discernem que uma palavra mal interpretada, pode fazer um estrago irreparável em sua espiritualidade. Realmente a Bíblia não é um livro de fácil compreensão, é necessário ao que se aventura em sua interpretação uma boa dose de bom senso para ouvir e respeitar o que ela diz. Quase sempre, junto à mística do poder das palavras, encontramos alguém preocupado em resultados mágicos. No texto bíblico em Atos dos Apóstolos capítulo 8:9-11,  o personagem Simão é exemplo de uma espiritualidade mundana submetida ao desejo de controlar coisas e pessoas. Diz o texto que todos davam credito às suas palavras e submetiam-se ao mágico pensando ser ele o poder de Deus, pois suas palavras de engano eram “poderosas”. Na cabeça das pessoas, ser poderoso é ter controle sobre situações das mais diversas. Isto me lembra os sistemas de monitoramento em tempo real que a tecnologia tanto apregoa para nosso benefício nos dias de hoje. Vende-se para a sociedade à idéia de que quanto mais controle, menos violência urbana! É o que dizem os apregoadores deste mercado tecnológico. Mas a realidade nos mostra outra coisa. O poder para controlar não será uma sugestão diabólica? Essa sugestão é antiga o desejo desenfreado de controlar pessoas e acontecimentos ou o futuro não cabe a nenhum homem ou sistema, por mais justa que seja a causa. Devemos viver um dia de cada vez, construindo relações livres pela confiança nos princípios divinos. Deus sempre estimulou na humanidade a confiança na liberdade, foi isso que Jesus de Nazaré exercitou com os discípulos e ouvintes, à confiança em Deus. No entanto algumas comunidades cristãs vivem o desvio entre desejo e prática da confiança, infelizmente isto se tornou apenas um alvo a ser alcançado quase nunca vivido. A influência de uma palavra amorosa constrói verdades livres, assim como palavras hipócritas constroem castelos em areia movediça. Pertence a Deus o poder de sustentar toda à criação, mas ele o faz pela liberdade!   






sexta-feira, 9 de setembro de 2011

O INEXORÁVEL COMUM

A percepção do comum, igualmente o sagrado e o profano, são conhecimentos que todos nós experimentamos no decorrer da vida. A meu ver a experimentação do comum é o que temos de mais luminoso na existência humana, pois a partir do corriqueiro entendemos o mundo que nos cerca. Nosso entendimento de tempo, espaço e limites psicológicos são formatos instituídos e estabelecidos culturalmente e produzem o estado de pertença na realidade comum. Mas nós somos seres humanos! Temos que apresentar um significado para o ordinário além dele... Por isto, re-significamos a singularidade do comum tornando-o transcendental, santo ou extraordinariamente profano. Como pode ser? Tomemos o amor como exemplo: sentimento sublime, comum aos seres humanos, que assume conotação santa na dedicação de uma mãe e de um pai presentes, no choro de uma jovem que perdeu seu namorado subitamente, na brincadeira de crianças, nas partidas de futebol, coisas do tipo bem comuns! Mas que podem ser estranhamente sagradas e não religiosas! Esse amor transcendente é do tipo fluído, elástico, de pura fé, compartilhado honestamente com pessoas das mais comuns. Você já notou que quando estamos perto de Deus amamos pessoas! A propósito, Ele se apresenta em nossas vidas de forma bem comum para revelar o Santo, o querido de nossa alma, de quem diz o profeta: não tinha beleza alguma, pois era comum! A experimentação do amor de Cristo, assim sua espiritualidade e morte, são exemplos de que re-significamos o inexorável comum. De maneira que a banalização da vida é não compreender estes significados, profanados por paixões materialistas que são poços sem água, caminhos onde a única certeza é a dor. Portanto, desconsiderarmos a natureza comum na qual estamos inseridos é profanar o sagrado da existência humana.   

sábado, 13 de agosto de 2011

PAI




Era apenas um garoto quando vi você partir,
Meu peito ainda dói ao lembrar como sofreu
Para naquele dia me olhar e conseguir sorrir,
Pois em teu peito sabia que era o último adeus;

Como é difícil, pai, deitar à noite e não poder dormir
Ao sentir no peito a dor que a lembrança ainda traz,
E ter que mesmo assim a duros passos prosseguir,
Sem tua mão amiga, que me é uma falta a mais...

O tempo não parou, pai, não me deixou saída,
Me vi contra a parede, e sem escolha resolvi viver;
Minha professora nestes anos foi a própria vida,
Que me obrigou antes da hora a ter que crescer.

Mas creio que um dia ainda vou te encontrar
Nos céus, entre anjos, arcanjos e querubins;
Peço que de onde estejas não deixes de me guiar,
Pois sem tua benção, pai, a vida é muito dura para mim!

Depois de tantos anos ainda sonho com você,
E choro ao acordar, pois no sonho tinha a tua paz...
Faltam-me até as palavras para descrever
Num mero poema, papai, a falta que você me faz!
                                                          

Gabriel oliveira

quarta-feira, 13 de julho de 2011

OLINDA

Paisagens evocam sentimentos prazerosos, coisa que podemos carregar por toda vida. É isso que levarei ao lembrar-me de Olinda, imagens de ruas marcadas no tempo onde civilizações mais antigas do que nós fincaram bandeiras e “limites civilizatórios”. De maneira sublime as imagens das casas coloridas harmonizam com a natureza num grande espetáculo pictórico serpenteadas pelo mar de Pernambuco. Estimulante aos olhos de turistas boquiabertos que eternizam histórias através de máquinas fotográficas. É totalmente cabível a frase: “Oh, linda situação para se construir uma vila!”, mesmo que digam ser a frase um mito popular. Cada canto da vila eterniza o passado glorioso dos conquistadores e o sofrimento de conquistados. Olinda! Cidadela de navegantes astutos, trazidos pelas correntezas da paixão. A propósito, este foi o sentimento que invadiu nosso coração ao caminharmos pelas ruas estreitas de um caminho que foi e já não é... Olinda, de cores fortes e céu azul, vegetação vasta, coroa de imaginações lusitanas! Maravilhoso cenário cultural que embala sonhos de visitantes deslumbrados, cada olhar deflagra emoções familiares. Os cheiros! O povo! Os artistas, o fundador do bloco dos palhaços! O som de mestre Salustiano trazido na bagagem, e no coração a alegria de termos contemplado tamanha obra prima! Cada porta, janela, friso, telhado relatam detalhes de um tempo distinto, é impossível andar por Olinda sem se chocar com a arquitetura! Os prédios públicos as igrejas portentosas, símbolo divino entre os mortais, declaram o poder dos que têm eira, beira e tribeira! Tudo extremamente confessado, autorizado e estabelecido entre os deuses de além mar. Aqui debaixo do equador os deuses sucumbiram à beleza dos trazidos em porões e embalaram-se pelo som de orixás, misturaram-se as formas negras para criar o Brasil multicor! Multiforme, lindo, como um conto de fadas. Em Olinda prevaleceu à mistura de um Deus mais humano longe de ser um mero espectador, embora os homens não tenham tido intenção.                 

terça-feira, 28 de junho de 2011

BREVE CONTEMPLAÇÃO

Fiquei maravilhado ao perceber através da janela do carro, num daqueles olhares ligeiros, uma luz cálida que caia perpendicularmente sobre prédios e árvores. Aquela claridade dava a paisagem aspecto de pintura. Esse é um daqueles poucos momentos de lucidez em que caem as escamas dos olhos e a beleza da paisagem ressalta como revelação. Isso foi numa sexta-feira agitadíssima! Dia em que todos parecem mais acelerados, ansiosos. Aquela imagem tocou-me como bálsamo, pois eu também estava acelerado e alienado das coisas que trazem beleza à alma. O cotidiano às vezes torna-se retilíneo por demais, os afazeres monótonos são quase um deus dominando a vida do homem de cidade. Realmente fiquei feliz por contemplar aquela composição radiante, sim, eu pensei, ainda posso ser sensível ao colorido da vida! Com isto me dei conta que o vento batia frio produzindo uma impressão bucólica na paisagem. Por fim, meus olhos saltaram ao ver no horizonte o céu carregado de um azul chumbo, intenso, profundo, prenuncio de chuva...

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Um Poema Escrito Com a Alma

Por Gabriel de Oliveira

O homem, não raras vezes, busca Deus como um ser material, visível, palpável. Busca, inclusive, à sua volta – o que não deixa de ser verdade, pois Deus está sim à nossa volta, numa mera rosa a desabrochar, no sorriso de um estranho direcionado a nós, ou até mesmo numa solitária nuvem a nos sobrevoar em um dia ensolarado. Entretanto, há um lugar especial onde as pessoas muitas vezes esquecem de Lhe procurar, e onde certamente Ele está: em nós mesmos, em nossos próprios corações, que é, sem sombra de dúvida, seu mais valioso templo.
Nesse contexto elaborei este poema, eterno navegar, que busca expressar exatamente a angústia que sente o homem que precisa de Deus em sua vida, de um porto de águas calmas para atracar, mas ainda não consegue encontrá-Lo. Todavia, no instante em que se põe a olhar para si mesmo, para seu próprio mar inconsistente, consegue, enfim, enxergá-Lo, visto que Deus, por mais distante que esteja Dele nosso coração, está sempre conosco. E ao fim, no instante em que o homem passa a olhar Deus com os olhos de sua alma, e não mais com seus olhos carnais limitadíssimos, consegue notá-Lo, por simplesmente não mais procurá-Lo materialmente, mas sim em sua mesma natureza, que é espiritual.

Eterno navegar

O homem navega em eterna busca
Em mar agitado que jamais finda.
Mas que porto é este que tanto procura?
Será, quem sabe, um sentido à vida?
Ou é felicidade, a terra firme distante
De sua nau chamada coração errante?
Ou será Deus a terra a que tanto aspira?

Mas como pode a este Ser tanto aspirar,
Se navega este homem em mar tão ausente?
Como pode neste porto querer atracar,
Se nem mesmo o vê, apenas o sente?
Se ao menos pudesse o enxergar,
Independente de para onde mirar.
Não é Deus, então, onipresente?

Eis que o homem à sua nau de regresso,
Resolve, em seu navegar insistente,
Mergulhar no mar de seu universo
E acalmar de ver esta água tão quente.
E neste oceano, então, assume sua fraqueza,
Podendo, enfim, ver toda a beleza
Que há em si próprio, mar inconsistente!

E ao se olhar, o homem já se enxerga
Não mais como uma nau à deriva,
Pois ao se conhecer, não mais se nega
A ver Deus, luz do farol à vista!
E de peito aberto mira a toda parte,
Conhecendo o artista por sua arte,
Horizonte belo do mar de sua vida!

Segue, então, tranquilo o seu navegar
Rumo a Deus, porto de água calma
Que pode o homem, enfim, enxergar,
Posto que agora o mira com a alma.

                                   Gabriel de Oliveira

domingo, 17 de abril de 2011

Espiritualidade & Mercado

Das vielas às universidades globalização não é mais só um conceito, estamos vivendo de maneira intensa essa nova realidade mundial aqui no nordeste. Isso me remete a década de noventa quando vi alunos e professores receberam deslumbrados a noticia alvissareira da chegada da tal globalização. Nessa época eu dava aulas de arte numa comunidade carente que acreditava nos benefícios que esse fenômeno do mercado traria. Um aspecto que impulsiona e legitima essa nova realidade é o “grande espírito” tecnológico nas comunicações via internet que viabiliza uma nova era de informações e conhecimento à humanidade, dando uma conotação democrática. Mas não é bem assim para todos os cidadãos, principalmente os mais pobres. A princípio não há nada de errado em acreditar e desejar pra si tamanha promessa de desenvolvimento social, pois conhecimento nas mãos humanas transforma o meio. Contudo é necessário, que nessa corrida para o futuro, que já é presente, identificar alguns pontos negativos que veio a reboque dessa magnífica materialização de desejos comerciais. O que de fato temos adquirido com nossa inserção global? Se olharmos com mais interesse veremos algum lixo resultante dessa odisséia que o mercado nos convida a cada momento. Podemos nomear alguns reveses como ansiedade, aceleração mental, individualismo exacerbado e pouca comunicabilidade interpessoal. Parece paradoxal, mas é real, a excelência da técnica dessa geração produz uma infeliz realidade, o distanciamento da espiritualidade. Segundo Ed René Kivitz “A espiritualidade pode ser compreendida como atributos do espírito; autoconsciência, consciência, volição, emoção e razão, e também como virtudes do espírito: justiça, compaixão, solidariedade, capacidade de perdoar e se sacrificar por amor”... Temos aberto a janela e visto um mundo distante dessa espiritualidade. O que na verdade planeja o mercado para combater ou minimizar os efeitos de um comportamento devastador em nossas relações? Trarão os ansiolíticos da grande indústria farmacêutica as respostas?  Por necessidade tecnológica o mercado criou conceitos analógicos e digitais para um melhor aproveitamento do tempo nos processos de comunicação e execução das maquinas, isso de alguma forma tem sido incorporado ao comportamento de milhares de pessoas que ao ligarem o botão de um equipamento acionam o mundo virtual sem questionamento. Ao corrigir as defasagens técnicas com leituras digitais tornou-se normal que também fizéssemos o mesmo em nossa espiritualidade. Não vejo porque demonizar a técnica ou conhecimento algum, mas as intenções que estão por trás de processos alienantes devem ser questionadas, averiguadas, por cada cidadão, pois a vida é mais que liga/desliga de um botão.    


terça-feira, 29 de março de 2011

A Dádiva da Consciência

Hoje o dia começou ensolarado e alegre, como todo começo de dia após uma grande chuva. Imediatamente meu ânimo melhorou e tudo ficou radiante, principalmente quando senti o inebriante cheiro de café, humm, maravilhoooso! Mas, nem todos podem experimentar esse dia da mesma maneira que sinto, pois a vida difere de pessoa para pessoa e cada um vive o tempo de forma distinta. O sabor do meu café não é o mesmo sabor do seu café. Isso me levou a lembrar da situação difícil que um amigo está passando. Ele encontra-se apreensivo, pois existe a possibilidade de seu filho perder a perna por causa de uma infecção. Por isso, o dia tem outro sabor para ele. Para um pai que ama! Filho ou filha são como o sol que torna a vida cheia de sentidos. Hoje abri minha caixa de e-mail e li o que um amigo enviou. Umas fotos de paisagens lindas acompanhadas de frases do filosofo Aristóteles. Numa delas o velho sábio diz: “seja senhor de sua vontade e escravo de sua consciência”. Isso foi outra coisa forte que me invadiu o coração nesse dia! Ter consciência é dádiva... Devemos buscá-la como a um tesouro, pois traz paz e equilíbrio para a alma. Do contrário, desequilíbrio, estado de uma pessoa sem consciência, produz dor. Foi isto que levou o filho de meu amigo a um hospital, alguém desequilibrado não conseguiu dominar a si mesmo, nem o carro que dirigia, provocando o acidente automobilístico.
            Apesar de vivermos no mesmo mundo as fatalidades acontecem indistintamente, ou será que não? Cada dia trás seu próprio mal! Não temos a mesma sorte e os mesmos ideais, nem as mesmas atitudes nobres ou vis diante das experiências de vida. É o caso do rapaz que provocou o sinistro, ao ser indagado sobre o por que da fuga desumana – coisa comum às pessoas sem consciência – simplesmente, sem nenhuma justificativa diante do fato violento, disse: “eu sou filho de um homem rico”! Isto foi para demonstrar seu poder de negociação? Meu Deus, que significa isto? Que tipo de consciência foi construída por este jovem? É obvio que um acidente escapa ao controle de qualquer um porque é um acidente, no entanto, pode-se evitá-lo não bebendo antes de dirigir. O que não foi o caso. Um grande poeta expressou a atitude alienada do homem sem consciência nos versos: ê ê ô vida de gaadoo! Povo marcado, ê! Povo feliz! Alguns homens satisfazem seu hedonismo a qualquer custo, pois estão marcados pela pecha do egoísmo, que os faz assumir o lugar de irracionais... 

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Papo Cabeça

      Acredito que a vida é bela, independente de estar feliz ou não, isso é ato de fé. Do mesmo modo, sentir o pulsar acelerado do coração, a respiração de quem eu amo, ou contemplar as cores de uma paisagem.  Tudo isso me leva a uma dimensão mais ampla da vida, por fé. Vivenciar experiências com outras pessoas é uma dádiva que traz angustia e desconforto, mas esse é o poder que produz vida saudável para minha alma. Por várias maneiras percebo que a existência, em si, é extraordinária, basta ver o ciclo de vida das espécies para de imediato dizer: nossa, que coisa maravilhosa! Como uma folha pode ser tão complexa e num simples exalar de perfume me remeter ao passado? Faça um exercício de olhar para os céus e contemple além das nuvens, deslumbre-se com o perfeito equilíbrio dos corpos celestes, que estão numa incrível dança cósmica, para ficar simplesmente de boca aberta! E mais, tente conversar com uma pessoa desconhecida de maneira interessada, perceba seu jeito de falar, seu ideal, sua limitação, isso também pode ser deslumbrante, depende de você e de mim. Contudo, há quem diga que esse tipo de argumento é fuga da realidade, escapismo, romantismo ou coisa de papo cabeça, por acreditar que a vida resume-se nos “problemas do mundo real”, onde não pode existir paixão. Afinal, o que é o mundo real? O ruim de pensar desta maneira é que o ser humano perde gradativamente a sensibilidade para ponderar o belo e deslumbrar-se com a dádiva da vida, que para mim é ato de fé!  Salomão disse que há tempo pra tudo na vida. Por certo há lugar no cotidiano para as relações pragmáticas do “mundo real”. Mas, pensar de maneira reta torna o mundo interior insípido, vazio e sem fé, coisa que não quero, pois isto me faz perder a capacidade de ver além dos fatos, a visão torna-se obtusa e não entendo a metáfora do existir, que é luminosa.         

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Divulgação: Livro Apenas Um Carpinteiro de Jansen Viana




Este é um daqueles livros que surpreendem, porque nos conduz de forma simples e rica a entendermos o coração do homem através do cotidiano. O autor Jansen Viana conta uma história empolgante e cheia de surpresas.Tive a honra de fazer as ilustrações do livro. Vale a pena conferir! Por isso, convido a todos a estarem presentes no lançamento, dia 02/02, na Livraria Cultura. 
Abraços e até lá.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

A Complexidade do Coração Humano

O ser humano é uma criatura complexa tanto em sua forma externa como em seu interior. Somos indivíduos com dimensão biológica, psicológica e espiritual. Independente de credo esse último atributo nos faz diferentes ainda mais das outras formas de vida. Porém ao discernir essas dimensões empregamos a capacidade de refletir que chamamos de razão ou racionalidade. Por conta disso o homem produziu o conhecimento que ao longo do tempo tornou-se sistemático. Esse conhecimento é tão grandioso que nos permite criar e transformar o meio que nos circunda, assim como a nós mesmos. Então, a partir das idéias criamos o mundo concreto e com essa força perpetuamos nossa existência de maneira poderosa sobre a terra. Isso nos faz sábios e entendidos aos nossos próprios olhos, é impossível conter tamanha energia. Não foi por acaso que recebemos a ordem de dominar a terra. Podemos até dizer que temos a imagem de Deus, o toque do Divino em nossa humanidade. Mas, isso me leva a uma pergunta, por que este fato não produz integridade na sociedade? Por que o conhecimento que acumulamos não nos liberta de fraquezas como a altivez e o ódio? Pelo contrário, o conhecimento acumulado nos dá a falsa impressão de sermos mais merecedores de importância nas relações que travamos com os outros, justamente por ter conhecimento. Paradoxalmente o caminho tornou-se o fim. É recorrente o homem produzir informação e fazer disso arma de dominação. Como se diz: quem sabe mais, domina mais! Porque é tido como o mais forte pelos pares! Um grande lutador! Por isso merece a admiração de todos. Inevitavelmente nossas diferenças são mais ressaltadas do que as semelhanças. Será a síndrome de Ninrode? Essa lógica do homem antigo perpetuada na contemporaneidade seria a forma de agir do homem natural como declara as Sagradas Escrituras? No entanto, os sábios são amigos da reflexão e do compartilhar em simplicidade um caminho espiritual que valoriza o outro como forma de conexão com o Criador. Deste modo o ensino que Jesus, O Filho do Homem, compartilha com os que a Ele se achegam é uma opção que nos leva a também compartilhar a humildade na vida. Integralmente nEle entramos na dimensão do conhecimento inclusivo que resgata o conceito de igualdade. Coisa incomum em uma sociedade capitalista e desiludida como a que vivemos, na qual as instituições, inclusive as religiosas, encontram-se em decadência, porque contraditoriamente perderam o sentido de igualdade e humildade que se traduz em justiça. Entretanto, para Jesus o importante na vida é o caminhar traduzido em ações e não somente a forma piedosa dos ditos seguidores. Muitas vezes as uniões em torno do conhecimento espiritual estabelecido como o certo se tornam rigorosas e promovem a intolerância. Sobretudo os religiosos que defendem o conhecimento dogmático como o correto. No entanto é nEle que nos tornamos iguais não porque temos o conhecimento em comum, mas porque o conhecimento que provem de Deus busca o bem comum. A inteireza de ações deve edificar valores existenciais e promover transformação em nossa estrutura. O Interessante dessa proposta é que os pequeninos, ou seja, os que não têm conhecimento formal, culto, são os que melhor compreendem o caminho e o aceitam.   

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Livre pensar...

" A hipocrisia é um elemento intrínseco da dinâmica civilizada. Negar o caráter universal da hipocrisia é fundar um novo tipo de má fé, mais falsa ainda, porque se traveste de pureza d´alma".
Luiz Felipe Pondé

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Reencontro Com O Deus Que Vive

Mais que nunca precisamos encontrar o Deus que Vive para uma reconciliação, pois o caminho independente que escolhemos tem produzido desorientação e injustiça por toda parte. É só olhar ao redor para constatarmos o grande mal que nos circunda.
Por certo a maioria dos seres humanos compreende o sagrado à luz de sua consciência ou imaginação. Entretanto é necessário compreender como Deus quer ser entendido, pois Ele é uma pessoa Divina com desejo de ser compreendido adequadamente. Não é desconhecido o fato de nossa relação ter-se turvado quando profanamos nosso coração, por isso já não o entendemos claramente. Assim, que tipo de linguagem Ele utilizou para se comunicar com suas criaturas? Quais foram suas estratégias de relacionamento? Sim, por certo o Deus que Vive tem uma linguagem! Tomando em consideração que o ser humano só pode compreendê-lo a partir do seu próprio universo, nada melhor que as experiências da cultura, perpetuadas através da palavra escrita, para nos orientar nessa linguagem. Mas o que dizer do fato de criarmos figuras e conceitos para nomear o sagrado? Invariavelmente elegemos um ser para chamar de Deus. Podemos eleger uma pedra, um fenômeno ou até mesmo um falo para chamar de Deus. Como podemos, nesse grande panteão, ter segurança de estarmos realmente adorando o Deus que vive? É própria ao ser humano à busca pelo sagrado, isto nos fascina. O mistério é algo que está além da racionalização, não importa a posição social ou intelectual que tenhamos, somos seres sensíveis ao transcendente. Como a comida que necessitamos e a casa que habitamos a experiência com o Deus vivo conforta e apazigua o coração. Por isso estamos sempre em busca do desconhecido inalcançável e etéreo para preencher um espaço que chamamos de “espiritual”. Portanto devemos dar atenção a este aspecto imaterial da vida, traduzido pela fé que trás em si uma linguagem específica estruturada numa relação de troca e confiança.  
O curioso de nossa individualidade é que temos a tendência de interpretar o Deus que vive de maneira particular, sem considerar os sinais peculiares que servem de guia para um melhor conhecimento dEle.  Talvez isso seja um dos motivos de tanta controvérsia religiosa, cada pessoa define uma imagem e linguagem que lhe é certa. De fato, desde a “queda” os seres humanos não conseguem reconhecer a verdadeira imagem do Deus que vive nem sua linguagem, até mesmo aqueles que o tocaram como seus discípulos. Só nessa afirmação já temos motivo suficiente de discórdia teológica. Não obstante, utilizamos uma ferramenta como percepção do sagrado que chamamos religião, apregoada em cada civilização. E o que buscamos nas religiões não é Deus? Sim! Mas realmente temos encontrado esse Ser Divino, essa Essência Última do existir? Ou será que temos nos satisfeitos com as imagens que chamamos Deus? Esse desvio teológico a muito tem sido debatido entre os religiosos. O encontraremos numa região desconhecida do cosmos ou no interior de um fruto nas plantações de figo da Índia? Como encontrá-lo? O imaginário coletivo cada vez mais tem sido construído por idéias e associações, as mais desvairadas a respeito do Deus que Vive. Contudo, Ele não é controlado por circunstâncias humanas nem muito menos por nossos caprichos relativistas. Aquele que é a Palavra usa algo sutil como a fé para se comunicar com os homens.  

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

A Importância da Arte na Construção da Vida

O homem nos últimos dias tem estado atrelado ao trabalho como forma de suprir sua necessidade existencial de maneira aguerrida. Mesmo sendo legítimo, será este caminho adequado para o desenvolvimento integral do homem? Integral diz respeito a corpo, alma e espírito, dimensões que nos pertencem e alargam a vida. Infelizmente o interesse do homem que produz não está na ação do trabalho em si como essência de um ato criativo e fonte de interação existencial. Como evento que permite o contato consigo e com o outro na construção da sociedade. Ao contrário seu olhar pragmático está no resultado desse trabalho que é o dinheiro, raiz que produz o valor “necessário” para vida. Desde muito o trabalho tem surgido como movimento “natural” para nós humanos. Por que então nos distanciamos desse movimento de valor intrínseco e temos nos aprisionado à moeda que ele produz de maneira insensível? O que a humanidade tem dado importância na construção da vida? Por que a criação artística inerente à nossa humanidade, não tem valor como trabalho formal? O ato criativo tão bem expresso no ofício e nas artes tem sido negligenciado, tem sido posto de lado em detrimento de uma produção alienante na qual o “produzir coisas” tornou-se dissociado de criação e expressão. Por força do formalismo institucional se começou a dizer que a produção de um artista não agrega valor prático a sociedade. Daí o motivo de ser menos importante na construção da mesma, onde o trabalho dito formal de um economista ou administrador de empresas, engenheiro, médico, gerente de banco ou dono de barraca é que tem real valor. Sem sombra de dúvida todo segmento de trabalho que constrói a “teia” social é imprescindível para o desenvolvimento humano, um não invalida o outro, pois toda atividade profissional pode ser ato criativo. Entretanto a fragmentação de áreas do trabalho não deve desvalorizar a importância da produção artística necessária para aquilo que chamamos alma, coração. O subjetivo é tão importante quanto o concreto para nosso bem estar. Mas, o que está por trás dessa atitude preconceituosa que lastreia tal desvalorização se não, um conceito pequeno que perdura na pós-modernidade e insiste em dizer que o “homem vale pelo que constrói financeiramente”. A construção do concreto começa no interior, através do ato criativo que está em tudo que fazemos. Contudo isso se tornou desmerecido aos olhos dos “grandes homens” e suas instituições que conquistam a terra com ditames da economia. Eles transformam em lucro tudo que produzimos. Quão infelizes se tornaram! Preferindo a formalidade exterior das coisas e não comungando com o movimento interno da vida que se expressa no ato artístico. O belo é uma metáfora?